14 janeiro 2011

Novo Encontro

Na virada de ano de 2010 para 2011 decidi me embrenhar em uma aventura adolescente com mais dois grandes amigos que conheci no começo da universidade. Levamos maconha, cervejas e drogas leves pra alguns dias em um apartamento alugado no centro de Bauru, impregnado do cheiro dos gatos da dona do apartamento. Vislumbrávamos relembrar os velhos tempos e sentir que eles não estavam mais tão distantes, completo engano. Esses momentos na verdade explicitam de maneira culposa e dolorida como é inalcançável nosso passado, e resultam na constatação de que ele “já era” e ponto, e ainda nota-se que acontece o mesmo com o futuro. Passado e futuro são tempos verbais úteis apenas para a lingüística, espero que me entendam nessa afirmação, pois não vou me explicar.
Claro que a oferta seria interessantíssima mesmo já com essas suspeitas, afinal de contas, amo demais meu amigos, estávamos solteiros, os três com vinte e alguns anos ainda, vivendo o momento no qual todos os nossos amigos se prendem a uma relação prisioneira ou castradora de sonhos da juventude. Invejávamos isso, ou eu invejo isso, e por isso fomos fingir que não invejávamos.
Entre bebermos muito no começo da primeira noite e quase sermos presos por dirigir bêbados (com a carta de motorista vencida, bem como a documentação do carro) no fim da noite, conheci um rapaz normal, apresentável, trabalhador e que mostrou muito interesse em mim, mesmo com meu estado alcoólico incomum.
Dois dias depois, constatei que não agüentava mais beber tanto como no começo da faculdade.
Em uma boate afastada da cidade, observei ainda o quão distante já me encontrava desses meios juvenis, figurativamente falando. Revi o rapaz da primeira noite, agora aos beijos e abraços com outro, confesso que faço parte da nova geração, mas desacostumei que as pessoas beijam e transam tanto assim hoje em dia.
Senti uma espécie de cólera nessa situação, afinal um bom partido, um bom papo, algum interesse. E ele com outro. Inevitável a minha ofensiva na troca de olhares e palavras que resultaram na troca de telefones. Cogitei que fosse um jogo histérico meu, mas não, eu liguei ao fim da noite, não foi jogo histérico, se foi enganei a mim mesmo muito bem.
Voltando pra casa, automaticamente recebi algumas ligações, sinalizando que o contato havia surtido efeito mútuo. Marcamos um encontro em Campinas na outra semana, a fim de bebermos em um bar, para nos conhecermos melhor e sair pra dançar depois. Parecia bem maduro. Fui.
Assim que nos encontramos, no outro fim de semana, notei o olhar de entusiasmo dele, e não sei se consegui esconder o meu de deslocamento. Faltava alguma coisa muito importante. Divertimo-nos, bebemos, dançamos, e transamos na casa dele ao fim da noite. Repetimos a dose ao acordarmos. Tivemos um almoço agradável no domingo, e passamos uma tarde de verão típico brasileiro curtindo um belo cochilo preguiçoso. Acordamos, tomamos mais algumas cervejas e dormimos novamente.
Segunda-feira, acordamos com o despertador, ele pro seu trabalho, e eu com a finalidade de voltar pra minha casa em outra cidade me entediar mais um pouco das minhas férias. Havíamos nos tornado outras pessoas nesse momento. Tomamos café em uma padaria enquanto alguns olhares abstratos e assuntos confusos do tipo “de elevador”. Confesso que mais da minha parte.
Voltei pra casa em seguida. No meio do caminho curiosamente lembrei-me de fazer uma ligação para o meu analista com a finalidade de reagendar o meu horário semanal desse ano. Uma ligação era muita pressão pra mim, acabei mandando uma mensagem de celular pra me sentir mais leve e marquei.
Curioso como a empresa que fornece internet é imbatível em deixar os clientes na mão quando eles mais precisam, não no trabalho, mas no tédio, cheguei em casa e não havia absolutamente nada pra fazer. Liguei fazendo uma reclamação sobre o fornecimento de internet e fui pra casa de alguns amigos verificar os e-mails e tomar um café aproveitando a companhia deles. Quando cheguei, fui alvejado com perguntas sobre o encontro, foi a primeira vez que não soube responder. E não se trata de não saber responder porque não gostei, ou porque gostei, não sabia mesmo responder. Só sei que faltou alguma coisa, exatamente a mesma sensação que tive ao ver o rapaz.
Não sei viver do vazio.

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